Retrato Desbotado por Edgar Izarelli de Oliveira

Ao dizer que gostei e li por tres vezes já o livro "Porta Encostada, conversando com o autor, disse-lhe que ia postar aqui  “A caixinha mágica”, mas Edgar logo retorquiu que todos gostam muito desse poema. Então pensei melhor e resolvi escolher outro poema e sabe por quê? Todo o livro é muito bom!

“Retrato Desbotado”
Busco uma metáfora morna e mediana
E, em certas partes de certos termos, até falsa...
Busco uma metáfora que, mesmo em estado decadente,
Explique ou, ao menos, exponha a intimidade dessa poesia intimista,
Mas, sei, corro o risco de banalizar os acontecimentos
E usar uma comparação simplista para falar de coisas profundas...
 Meu coração não é peça de carne recém cortada
Nem perna de cadeira toda arranhada pela finalidade de afiar garras felinas;
Minha mente não é labirinto de paredes desconexas entre vagos paradoxos
Nem viajante condenada a encontrar o sentido na jogada do xadrez inconsciente;
Não sou um ursinho de pelúcia guardado numa estante distante
Nem me sinto esmagado pelo peso das várias acepções de verdades e mentiras...
Não choro e nem rio, apenas continuo, talvez um pouco mais só e sem cor...
Um pouco mais solitário e sem cor, meu sentimento é como foto antiga,
Daquelas que a gente tira e espera a imagem se formar no cartão branco...
Mas vem o tempo que, trazendo a corrosão dos traços e contrastes,
Rouba as cores e a nitidez e, por fim apaga o último esboço da imagem;
Deixando uma folha de filme vazio como recordação rasgada por si mesma...
Eu até podia implorar uma máquina digital, dessas modernas com lente retrátil,
Mas ser convertido em pequenos números não me parece felicidade...
E a máquina antiga – capaz de fazer a arte acontecer – se perdeu das mãos hábeis,
Assim como eu, num antiquário longíncuo de um avelha casa de quinquilharias.

Do livro Porta Encostada
Entre a Resiliencia e a Obsessão
https://www.facebook.com/edgar.izarellideoliveira





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